Coluna Barrigudos

Colunista Informavale

“Eu sou um pedaço da sobra dos anos setenta: duro como um rock e às vezes lerdo e moroso como uma balada. Se for bebido de uma vez, engasgo! Sou de sabor acre e forte, tenho que ser lido enquanto leio, visto enquanto vejo”. Direto do Cariri cearense para o mundo, Lupeu Lacerda é um libertário pós beatinik, poeta e artesão, autor dos livros “Entre o alho e o sal”, “Todo suicídio é um homicídio”, entre outros. Siga @lupeulacerda e acesse www.lupeulacerda.wix.com/lupeu

Titânico & Barrigudo é barril dobrado quântico (ou não, porque tanto faz)

Barrigudos anônimos que já foram famosos e já gastaram seus quinze minutos efêmeros continuam vivos, vívidos, voláteis & virulentos as vezes. Porque sim meu chapa, meus, minhas, todos, porque os barrigudos famosos & anônimos não tem lugar de CALA nem sabem falar em linguagem neutra. Aqui, desse lado, neutro? Nem shampoo.

E quando a gente pensa que não, os titãs fazem quarenta longos anos. Alguns deles ficaram comportados (pero no mucho) e branqueiam os cabelos como se o tempo fosse um velho vagabundo assobiando um rock enfezado e com uma lata de tinta ocupado única e exclusivamente em pintar cabelos de gente que insiste em permanecer contestando, cantando, escrevendo, pintando os setes, oitos e todos os outros números inumeráveis e nem nomeados ainda. Mas no fundo, bem lá no fundo da panela de pressão, os titãs continuam sendo bichos escrotos. E é bom pra caralho saber que alguém ainda ousa ser escroto sem ser canalha. Aliás, utilizando a escrotidão e a língua ferina como um chicote pra açoitar as costas e as caras dos bichos fascistas que saíram dos esgotos e que não querem voltar para lá.

Quando o “cabeça dinossauro” nasceu eu já perambulava pelo universo há quase 21 anos. E lhes digo, afirmo com convicção: escutar esse disco mudou uma caralhada de conceitos. Não só meus, mas sem sombra de dúvida, da minha geração. Desde a capa!!!! Fodidamente bela em seus rabiscos de Leonardo da Vinci, falando de um homem urrando, e que influenciou capas, desenhos, rabiscos nas paredes, até o som, fodidamente cru, namorando descaradamente a estética punk tão do meu agrado e tão do desagrado da mass media.

Todos os meus e minhas sabiam cantar cada uma das letras. Se cutucar a memória com vara curta, ainda sabem. Ainda cantam. Ainda sentem um calor agoniado subindo da sola dos pés em direção ao coco da cabeça e que dá uma vontade danada de sair derrubando um sistema, seja qual for. Quer ver? Ouvir? Cantarola aí onde tu tiver: “aa uu, aa, uu” e vê se não tem um ou dois com mais idade no lombo se virar pra te ouvir. Ou experimenta cantarolar “dizem que ela existe, pra ajudar, dizem que ela existe, pra proteger” em uma manifestação qualquer. Fica lindo! Ainda hoje! Sim, nós sabemos que a policia é só o braço armado e nunca amado do sistema que nos quer dinossauros caladinhos, comportadinhos, obedientes e servis.

O disco em si, é tão atual que chega a ser futurístico ainda hoje. Quer ver uma coisa? Experimenta ouvir “igreja” sob a luz dos (nunca) últimos acontecimentos: “eu não creio na graça do milagre de deus”, porque convenhamos: esse deus e essa igreja que pulula nos bairros da américa latrina tem quase tudo de facção criminosa, e quase nada de “religar” o homem ao seu deus. Seja qual deus for que está na moda agora. Ainda estamos dentro de um estado de absoluta violência, um estado de absoluta hipocrisia. E que sim: continua insistindo em proibir o pensar. Lá também, nesse disco manifesto/disco livro, eles já falam em “vai pra rua”, e falam da ditadura da moda em “tô cansado do meu cabelo, tô cansado da minha cara, cansado de coisa vulgar e rara, de me dar mal, de ser igual, de moralismo & de bacanal”. É foda viu? Escrevendo aqui, cantarolando na cabeça sequelada e com uma raiva ducaraio de não ter de novo quase 21, de ter de novo vontade e coragem de tomar o poder e depois devolver, por tédio, ou preguiça, ou ressaca. O que viesse primeiro.

Impressionante também o dedo grandão na ferida da família” que esse manifesto disco escancara, que “almoça junto todo dia” mas se a menina quer fugir de casa, sem ganha pão? Papai mamãe não dão nenhum tostão. Parece com alguma coisa que tu já viu? Né? Apois. O futuro é na semana passada, mês que vem, ou quiçá, nunca na galáxia.

Termino essa coisa texto dinossáurico como quem nunca nem começou: o disco voador titânico pergunta “o que?”, e completa sem completar: que não é o que não pode ser que não é. Não será, não foi nem vai. Só vem. Só vem que tem troco meu chapa, minhas chapas de qualquer idade ou designação não genérica. Porque sejamos francos: estamos cheios de “dívidas”, as que se pagam com dinheiro e as que não. As de afetos e desafetos mútuos. As que são perdoadas entre cervejas estupidamente geladas (porque a gente diz estupidamente? Isso é meio que uma estupidez, ou falando feito antigamente: uma estultice) e as que se perdoam olhando o por do sol, entregando a ele, ao sol, pra derreter as mágoas as más águas e as dívidas das águas más. Sim, a gente sabe, que tirando os polegares opositores mágicos somos todos homens primatas, e o capitalismo meus queridos, está cada vez mais selvagem nessa porra. Nossa face escondida é ainda a face do destruidor e como dinossauros, esperamos a porra de um meteoro pentecostal que irá nos colocar ou na cloaca do universo ou na vagina mágica, ancestral e bela da via láctea.

Eu, não vim pra enfeitar. Nem seu lar, nem seu jantar, nem a porra de seu nobre paladar. Por isso, e só por isso, fodam-se os que ainda levantam suas mãos em saudações nazifascistas tupiniquins. Eu, titânico também, pança de mamute cariri por derradeiro, digo: evoé titãs. Heya anos 80, que como dizia seu Raul, foi a charrete que perdeu o condutor.

Bora pra diante, que o futuro pensa que engana a gente mas a gente sabe: o jogo só acaba quando termina. E hoje, dia todinho, toca titãs na rádio imaginária do meu coração sequelado aemeefeeme de quase 58 anos.

Eu? Ainda vou passear de disco voador. Escutando roque. Bebendo cerveja & coçando minha bela pança de mamute simpático só as vezes.

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