Cultura – Opinião

A música e os seus gêneros

Por Raphael Leal

Eu aprendi que existia no meio da música os músicos que acompanham, os intérpretes(cantores e cantoras), compositores, letristas, poetas… E às vezes isso tudo se misturava numa coisa só. Vez ou outra, cantores que também eram compositores gravavam discos/álbuns com músicas de outros, e tava tudo certo.

Mas aí, creio eu, dos anos 2000 pra cá pintou um novo lance: o autoral.

Alguns artistas justificavam que queriam cantar as próprias músicas, e não mais cantar os hits de Caetano, Gil, Djavan, a turma do rock e etecetera…até aí, tudo bem. É um direito, e devemos valorizar a produção artística. Contudo, também não sou obrigado a gostar de tudo que é autoral.

É quase uma obrigação bater palmas para o “autoral”. Se a pessoa não gosta deste “novo”, é conservador no “gosto musical”.

Bem, eu estabeleci o meu gosto, e tenho parâmetros. Se o som que ora ressoa me toca, me apetece, emociona, eu aplaudo. Caso esta sensação não me ocorra, sinto muito, e desejo boa sorte. E sem pregação de bom gostismo.

Tem um bocado de gente nova aí fazendo sons legais. Já teve Tulipa Ruiz, Silva, Dani Black, e tem a Rachel Reis, Andrezza Santos, Fatel, Ana Barroso, a turma de Pernambuco, que tem o Juliano Holanda, Martins e a Flaira Ferro, só pra citar alguns e algumas. Produzem e também interpretam canções de outrora, e de artistas novos.

Deste autoral, eu tenho gostado. Mas, ao que me parece, esses artistas citados, e tantos outros que escuto, não estão se importando com “selo do autoral”, não. Se tudo se resumisse a isto, artistas como João Gilberto, Gal, Bethânia, Emílio Santiago, Elis não seriam, nada. E eles e elas são muito.

Frank Sinatra nunca escreveu um verso.

Os cubanos Omara Portuondo e Ibrahin Ferrer também, não.

Mas e aí, vão torcer o nariz porque eles não fizeram um trabalho “autoral”? Gil é o compositor de “Barato Total”, Caetano o de “Divino Maravilhoso”. Mas alguém consegue visualizar na sua mente outra pessoa cantando essas músicas que não fosse Gal?

Guilherme Arantes compôs “Brincar de Viver”, mas é possível imaginar essa música sem a voz de Bethânia soprando no ouvido?

Escrevo isto, caros e caras, para provocar, propor um debate, refletir.

Eu, ficarei por aqui,ouvindo os sons “das antigas”, como o clipe da banda Tio Zé Bá, que curto desde quando era Apocalipse Reggae, e que era bem “autoral”, mas sempre interpretou outras canções, tocando “Music and Me”, de Michael Jackson. Assistam.

Raphael Leal é jornalista, gosta de música e outras artes, e também de dar pitacos culturais e políticos.

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