Ju Santos e a força do empreendedorismo feminino que transforma a vida de outras mulheres

Histórias de empoderamento, superação e muito trabalho que traduzem o sucesso do Boteco do Caranguejo

Da Redação

O Informavale apresenta neste mês de março uma série de matérias especiais sobre mulheres empreendedoras e de destaque em seus respectivos segmentos em Juazeiro e Petrolina. Vamos mostrar um pouco do perfil, da trajetória de luta e do trabalho que algumas representativas mulheres realizam culminando com importantes contribuições que impactam a vida de outras mulheres e da sociedade em geral.

A nossa primeira personagem feminina traz a empreendedora do ramo da gastronomia e do entretenimento, Ju Santos, sócia-fundadora do restaurante Boteco do Caranguejo, localizado na Vila Bossa Nova, em Juazeiro.

Há 28 anos atuando no ramo do entretenimento e da gastronomia, Ju Santos, de 45 anos, comanda o famoso ‘Boteco do Caranguejo’ na Vila Bossa Nova, localizado na Orla 2 de Juazeiro. Ela mantém uma equipe eminentemente formada por mulheres – das garçonetes às cozinheiras e gerente, sendo a maioria mães solo e chefes de família. Uma atitude empreendedora que serve para mostrar a garra de mulheres guerreiras em busca de realizarem seus sonhos. Ju Santos conta que começou a trabalhar cedo. Ainda com 17 participou de uma seletiva de vaga de emprego no setor administrativo e de recepção do extinto São Francisco Country Club, onde iniciou sua vida profissional e nunca mais parou.

“Logo depois consegui outro trabalho e mantinha uma jornada dupla, pois gerenciava a Pizzaria Francesco inicialmente em Petrolina e depois em Juazeiro. Minha carteira foi assinada nas duas empresas já que eu podia manter os dois empregos sem prejuízo. Depois que o Country fechou, fiquei apenas na Francesco, mas algum tempo depois pensei em abrir meu próprio negócio”, explica Ju.

Ju Santos, representante do empreendedorismo feminino que transforma vidas / Informavale

Casada com o educador físico e professor Regivaldo Alves, eles foram influenciados no pioneirismo da comercialização de caranguejos e outros frutos do mar em Juazeiro pelo Cabo Régis, sogro de Ju, de onde também veio a inspiração para batizar o nome do primeiro empreendimento como Boteco do Caranguejo. Fundado em 2016, a primeira sede foi na Rua Tiradentes, bairro Santo Antônio. O restaurante começou atendendo os amigos mais próximos do casal até ganhar fama e surgir a necessidade de abrir em um espaço maior. A oportunidade surgiu em 2019 com a inauguração da Vila Bossa Nova na requalificação da Orla 2 de Juazeiro e recuperação dos casarios da antiga Franave, transformado em Centro Gastronômico.

Boteco do Caranguejo, o point da Vila Bossa Nova desde em 2019 com o melhor em frutos e do mar e boa música com bela vista para o Velho Chico / Informavale

A inauguração ocorreu com sucesso em dezembro daquele ano, mas logo veio o maior revés dessa trajetória empreendedora quando a OMS decretou pandemia de Covid-19 em escala global. Porém, assim como muitos outros empresários, Ju e Régis conseguiram assegurar os pilares do Boteco e destes 8 anos de criação, estão há 5 anos na Orla 2 funcionando com uma equipe composta por 22 funcionários permanentes com salários fixos mais os 10% da taxa de serviço, alimentação e transporte. O empreendimento conta ainda com mais oito funcionários diaristas. Não deixando de ressaltar que todas as garçonetes e cozinheiras são mães-solo e chefes de família.

A satisfação dos clientes é o segredo do sucesso do Boteco do Caranguejo / Informavale

“Eu vivo deste empreendimento, do qual posso ajudar minha família a exemplo de minha irmã, tia e sobrinhas que trabalham no Boteco. As outras mulheres também vivem daqui e muitas delas já adquiriram casa e transporte próprios. Posso dizer que sou uma mulher vitoriosa. Foi uma caminhada muito difícil, com vários percalços e muito trabalho, mas agradeço a Deus por tudo que conquistei e por poder contribuir na transformação das vidas de tantas famílias através dessas guerreiras que estão ao nosso lado”, relata Ju com orgulho.

No Boteco o comando é das mulheres e o atendimento é pura simpatia e eficiência / Informavale

Essa transformação que Ju fala trouxe à vida de muitas mulheres que fazem parte do Boteco Caranguejo o conhecimento da palavra muito em uso que é o ‘Empoderamento’. E o que há de melhor nessa palavra que exala tanta força é que significa “passar a ter domínio sobre a sua própria vida, ser capaz de tomar decisões sobre o que lhe diz respeito” – e isso pôde ser oportunizado por Ju Santos.

Nada mais representativo para mostrar a importância do empreendedorismo de Ju Santos do que contar pelo menos uma das muitas histórias que ela ajudou a construir. Com 50 anos de idade, Eva Duarte é um exemplo para muitas outras mulheres. Criada na comunidade de Alto das Queimadas, no distrito de Juremal, zona rural de Juazeiro, ela só cursou até o ensino médio, passou por um casamento onde sofria violência doméstica, mas conseguiu seguir a vida após a separação e, como trabalhadora rural na colheita de uva, sustentou como mãe solo seus dois filhos que hoje têm 30 e 22 anos.

Eva Duarte é um exemplo da garra das mulheres que lutam para realizar seus sonhos e prover a família / Informavale

“Fiquei desempregada e uma amiga me indicou ao que hoje considero a maior oportunidade que tive para mudar a minha vida e a de meus filhos. Uma amiga me indicou para uma vaga de garçonete no restaurante Boteco do Caranguejo e, mesmo sem nenhuma experiência, fui atrás. Enfrentei muitas dificuldades no início, mas não me deixei abalar. Tudo era uma novidade, no entanto fui aprendendo a lidar com o novo, recebendo as orientações sobre atendimento, como receber e entregar os pedidos dos clientes. Nunca havia feito isso, mas a necessidade fez com que eu me dedicasse e aprendesse”, explica Eva.

Ela lembra um episódio em que pela inexperiência irritou um cliente que queria reclamar de seu atendimento para os donos do restaurante. “Passei na frente dele e não deixei que ele passasse. Eu não permiti que isso me abalasse, expliquei ao cliente sobre as dificuldades que estava passando e a necessidade do emprego para criar meus filhos e ele, mesmo a contragosto entendeu, pois me esforcei muito para melhorar”, conta.

Para Eva, que no período da pandemia precisou voltar para o trabalho na roça, mas que depois foi chamada de volta ao Boteco do Caranguejo onde está até hoje, um dos maiores motivos pelas conquistas que teve foi a força empreendedora de outra mulher: Ju Santos, a destemida empreendedora que fundou o restaurante junto com o esposo onde hoje empregam dezenas de mulheres com histórias semelhantes. E, claro, a sua própria história não poderia ser diferente. 

A força empreendedora de Ju Santos fez surgir uma rede de apoio a mulheres que precisavam entrar no mercado de trabalho / Informavale

Eva, a mesma que começou sem nenhuma experiência e até enfrentou um cliente para não perder o emprego, agora domina a função e é uma das mais respeitadas e queridas funcionárias da casa. Para outras mulheres que já passaram ou estão passando pelas mesmas dificuldades que ela já passou, deixa uma mensagem.

“Digo a outras mulheres que, como eu, além de serem mães solo já enfrentaram tantas barreiras e sofrimento, que tenham fé em Deus, coragem para trabalhar e enfrentar o que vem pela frente, porque com certeza elas vão vencer. Eu venci através da grande chance de ter um emprego digno pela Ju no Boteco do Caranguejo, pelas ajudas que tive e asseguro que ninguém deve se achar incapaz, pois todos podem conseguir o mesmo. O importante é não desistir”, ressalta.

Reportagem: Luiz Hélio

Fotos: Eduarda Moret e Maísa Santos

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