Embrapa calcula valor da emissão de carbono no campo brasileiro
Pesquisadores da Embrapa Territorial avaliam que produtor rural deveria receber US$ 11,45 por tonelada do carbono que deixa de ser emitida no país
Quanto um produtor rural brasileiro deve ganhar por deixar de emitir gases de efeito estufa equivalentes a uma tonelada de gás carbônico? Em uma primeira abordagem para tentar responder à pergunta sobre o que é preciso para descarbonizar a agropecuária, a Embrapa Territorial fez cálculos econométricos e chegou ao valor de US$ 11,54 por tonelada de carbono equivalente.
O montante corresponde às emissões de carbono para a produção agropecuária de 2021, com atualização monetária. Para chegar ao número, a Embrapa usou como base 32 estudos, de diversos países, publicados entre 2004 e 2024. O resultado do cálculo está na edição mais recente da Revista de Economia e Sociologia Rural, da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (Sober).
No ano passado, a Embrapa já havia calculado o valor da emissão de carbono na citricultura brasileira. A estatal concluiu que uma tonelada de carbono na produção de laranja deveria valer US$ 7,72.
O cálculo para toda a agropecuária brasileira pode embasar ações de estímulo à redução de emissões. “Ter uma estimativa de valor é importante para que empresas e instituições que queiram desenvolver programas e políticas de incentivo a práticas sustentáveis tenham preços de referência”, afirma a economista Daniela Tatiane de Souza, analista da Embrapa que coordenou o estudo.
O preço do carbono na agricultura pode ter grandes diferenças de um país para outro ou entre dois métodos de cálculo. Segundo a Embrapa, o valor da tonelada de carbono pode ter diferenças que vão de US$ 2,60 a US$ 157,50, a depender da base de comparação.
A precificação das emissões pode valer tanto para mercados de carbono regulamentados como para mercados voluntários. Na lista de mercados que o Banco Mundial acompanha — que inclui diversas iniciativas, entre elas atividades agropecuárias — está o programa voluntário da Tailândia, por exemplo, onde o preço do carbono é hoje de US$ 0,70 a tonelada. Já no programa japonês de compensações de emissões, o valor é de US$ 67 a tonelada.
No Brasil, o preço dos Créditos de Descarbonização (CBIos) emitidos por produtores de biocombustíveis do RenovaBio — único mecanismo de emissões regulado no país — equivale atualmente a US$ 13 a tonelada de carbono que se deixa de emitir graças ao uso de biocombustíveis. Os preços do primeiro bimestre de 2025 foram a base da conversão.
Segundo a análise da Embrapa, o preço do carbono tem correlação inversa com o PIB: quanto maior a economia de um país, menor o valor que se paga aos agricultores locais para que reduzam suas emissões. Algumas correlações não são tão óbvias. “Em mercados voluntários ou menos regulamentados, um aumento nas emissões de CO2 pode não resultar em preços mais altos para o carbono”, diz Souza.
Entre os fatores que têm peso considerável no preço do carbono na agricultura estão a própria relevância que a atividade tem na economia de um país e o uso de fertilizantes nitrogenados no campo. Esses insumos são uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa na agricultura.
O cálculo da Embrapa considera metodologias de cálculo do custo marginal para a redução da emissão da tonelada de carbono e “modelos de avaliação integrada” (IAMs, na sigla em inglês). Esses métodos, validados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) para avaliar políticas de mudanças ambientais globais, calculam impactos climáticos, custos de adaptação, impactos na produção agrícola e na saúde humana, entre outros efeitos.
A Embrapa também adotou em seus cálculos métodos usados para aferição de “preço-sombra”, que é implícito em bens que ainda não são transacionados. No caso do carbono, ele indica os benefícios da redução da emissão de uma unidade de carbono diante das restrições tecnológicas existentes. O estudo desconsiderou variáveis como barreiras de preço, incentivos para que os produtores mantenham práticas de baixo carbono e fatores culturais.
Fonte: Globo Rural