Calorão já causa prejuízos ao agro, com a perda de safras e animais
O calor pode afetar a cadeia de produção do setor agropecuário e implicar em alimentos com preços mais salgados em 2024
Com a onda de calor que assola vários estados do país, boa parte das capitais apresentou temperaturas acima de 35 °C nesse domingo (12/11) e, nesta semana, o cenário não será muito diferente. No Rio de Janeiro, por exemplo, a sensação térmica nessa segunda-feira (13/11) chegou a 52,7 ºC. Esta é a quarta onda de calor que o Brasil vive no segundo semestre deste ano, de acordo com informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Só no Acre, mais de mil frangos foram perdidos, acarretando na perda de 70% da produção de um dos complexos industriais. E as perdas da safra de cebola, por conta do excesso de chuvas em Santa Catarina, já são equivalentes a um mês de consumo do produto no Brasil.
O Instituto Certified Humane Brasil, que zela pelo bem-estar dos animais do setor pecuário, já alertou que o calor excessivo pode afetar a produtividade agropecuária – cerca de 80% das perdas na produção estariam associadas a isso.
Os alertas da Organização Meteorológica Mundial (OMM) inclusive indicam que o planeta está, pelo menos, 1ºC mais quente que no período pré-industrial, ocorrido entre 1850 e 1900.
Meteorologista do Inmet, Olivio Bahia ressaltou, nessa segunda, que a onda de calor afeta humanos e animais. “Mais de 2,5 mil municípios estão em alerta vermelho e laranja. O Brasil vem sofrendo com a onda de calor, e isso afeta não só a saúde humana, mas os animais”, disse o meteorologista ao Metrópoles. “Muitos frangos morreram por conta do calor. Frango e gado”, exemplificou.
“Isso pode trazer prejuízos em cadeia. Se não choveu bem até abril, pode ter problemas no solo. O agricultor não consegue plantar, tem que ter chuva contínua. Os produtores aguardam o momento e aí plantam porque sabem que a semente consegue se desenvolver. Eles estão preocupados, porque têm prazos para (cumprir) isso”, destacou Bahia.
A projeção da safra agrícola de 2024 deve totalizar 8,8 milhões de toneladas a menos que a deste ano, de acordo com os dados do primeiro Prognóstico para a Produção Agrícola 2024, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para o especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias, mestre em Finanças pela Universidade de Sorbonne, o resultado de uma safra menor é a baixa disponibilidade de produtos no mercado, o que pode aumentar os preços. “Se o preço dos produtos sobe, o poder de compra diminui. Logo, o agravamento da seca deverá impactar no IPCA (índice ligado à inflação) do próximo ano”, explicou ao Metrópoles. “A projeção do IPCA para 2024 subiu pela terceira semana seguida”, alertou.
Onda de calor, El Niño e o aquecimento global
O fenômeno El Niño, que se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, ocorre a cada cinco e sete anos, e afeta diversos países — entre eles, o Brasil. O El Niño contribui para que a primavera e o verão registrem temperaturas em torno ou acima da média, favorecendo períodos prolongados de calor mais intenso. Com o aquecimento global, os impactos nas temperaturas tendem a aumentar.
O aquecimento global, que pode intensificar o El Niño, é causado pelo acúmulo crescente de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera, graças a ações de intervenção humana relacionadas à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento.
FONTE: Portal Metrópoles